domingo, 28 de dezembro de 2008

Para a história da SVD em Portugal 2








O "Seminário 
da Imaculada" 
com a Igreja 
paroquial 
da freguesia 
de Santa Marinha 
da Costa - Guimarães, 
em primeiro 
plano,
no ano de 1955.


Foi há 53 anos, a 31 de Agosto de 1955, que eu, feita a 4ª classe e vindo de uma aldeia do interior do concelho de Barcelos, cheguei a Guimarães, de camioneta, com destino ao "Seminário da Imaculada", na Costa.
A minha primeira impressão, foi de espanto. Um enorme edifício, em grande parte arruinado, nos esperava. Mal imaginava eu que, nos dois anos seguintes, iria passar ali dois dos anos mais interessantes da minha infância, dormindo em camarata, paredes meias com enormes ruínas, que acabaria por escalar, na inconsciência da infância, que nos chama à aventura e ao prazer do desconhecido.


Antigo convento

Só mais tarde fiquei a perceber o privilégio que era viver num edifício que, embora em parte arruinado, estava integrado numa grande quinta, com belos e enormes jardins onde se modulavam, em buxo, figuras de aves e matas onde cada espécime arbóreo representava uma descoberta botânica que ainda hoje nos desperta memórias visuais e nos faz identificar os cheiros que invadiam a quinta. Não teria havido melhor local para os cónegos de Santo Agostinho, na Idade Média, e posteriormente os frades da ordem de São Jerónimo, no início do século 16, instalarem o seu convento.

O seminário da Imaculada - Costa - Guimarães
Os lugares que mais preferíamos para a brincadeira, eram, naturalmente, as velhas e extensas ruínas entre a casa que ocupávamos e a varanda de Frei Jerónimo, onde havia um belo chafariz de quatro bocas, de onde jorrava, permanentemente, a melhor água de Guimarães, proveniente das nascentes da encosta da Penha.

O labirinto e a "piscina"
Local privilegiado para a aventura era também o "Labirinto", um local mítico, em plena mata, cheio de percursos intrincados, feitos de sebes altas que convergiam para um centro,  onde quem chegasse primeiro era o vencedor. Não havia melhor sítio para o esconde-esconde, um jogo que ainda fazia parte do nosso divertimento infantil.
E o enorme tanque oval, ao cimo de um enorme escadório, que nós transformamos em piscina e onde muitos de nós aprenderam a nadar. Sítio mais aprazível, rodeado de árvores enormes e frescas, que davam sombra no Verão, não era possível encontrar.
O edifício, esse, era bastante velho, mas acolhedor. Era o espaço que tinha restado de um incêndio, ocorrido em 1951, quando ainda era seminário jesuita. Abandonado por estes, foi alugado pela Congregação do Verbo Divino, para ali instalar, em 1952, o "Seminário Missionário da Imaculada", a segunda casa verbita em Portugal.


O interior do edifício
O imóvel tinha dois pisos: rés-do-chão e primeiro andar. No rés do-chão instalavam-se o Refeitório, a cozinha, a zona de serviços, balneários com chuveiros, lavandaria e um dormitório, com entrada pela zona do claustro.
No primeiro andar havia um segundo dormitório, instalado na "Sala do Capítulo" do velho convento e cheia de belos painéis de azulejos historiados; a Capela, onde o que mais marcava era um pequeno nicho, formado por uma reentrância em forma de vieira, com a imagem da "Imaculada"; e as salas de aula, com janelas voltadas para a entrada principal do edifício e vista para a cidade de Guimarães. 
O acesso do rés-do-chão ao primeiro piso era feito por um escadaria em madeira trabalhada. Nos corredores havia janelas que davam para um claustro interior, com um belo chafariz ao centro, de onde jorrava a água fresca que nos matava a sede nos dias de maior cavernícula. 
Sobre o frontão da entrada principal do seminário via-se um brasão de armas. Da entrada principal acedia-se ao claustro através de uma escadaria, ao cimo da qual se encontrava um portão gradeado em ferro. 

O claustro
O acesso aos jardins interiores, a partir do claustro, era feito por  uma bela escadaria, cheia de belos painéis historiados, com cenas de guerra e epopeias históricas, que dava também acesso ao dormitório, outro sala do capítulo do velho convento.
Foi este o cenário em que passei os dois primeiros anos de seminário, repleto das aventuras típicas desta época que marca a passagem da infância para a puberdade, com educadores que vinham de outras culturas, certamente mais evoluídas que a nossa, mas também marcadas pela guerra mundial que uma dúzia de anos antes avassalara a europa e a mergulhara na miséria e na violência. 
Mas nós estávamos a léguas dessa vivências e só trazíamos connosco as marcas que tal perturbação trouxera às nossas vidas, traduzida em atraso económico, cultural e social, no interior das nossas aldeias.

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