quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

À PROCURA DE ABRIGO (em Belém de Judá)



Há uns dois mil anos (mais ou menos), na Judeia, dois viandantes, um homem e uma mulher viajavam para Belém, sua terra Natal, para se recensearem, segundo o édito do imperador romano César Augusto, cujas tropas ocupavam na altura as terras de Israel.

Pobres e cansados de uma longa viagem, como muitos outros viandantes que foram obrigados a demandar a terra natal para o recenseamento  imposto pelo ocupante romano, procuraram um sítio onde passar a noite, mas debalde. As poucas hospedarias estavam repletas e não havia lugar para mais alguém, muito menos para viandantes pobres.

Ele chamava-se José e ela Maria. Era um casal e ela estava grávida.
A noite ia adiantada, as estrelas brilhavam no céu e o frio era de enregelar.

A cada porta a que o casal batia, à procura de acolhimento, o diálogo terminava sempre com um rotundo não.

toc...toc... toc...toc...

- Quem bate aí?
- Dois pobres vindos a Belém.
- Que desejais?
- Queremos um abrigo aqui.
- É tarde já !
- Por amor de Deus vos pedimos; fatigados nós nos sentimos.
- Podeis pagar?
- Dinheiro nós não temos ó senhor.
- Saí daqui..!
- Ouvi-nos... suplicamos por favor...
- Avante… andai…!
- Havemos de agradecer…
- Não… jamais… não pode ser…  avante … andai... não entrareis!


E mais toc...toc... toc...toc... a outras portas sempre com a mesma nega.

Desesperados, o homem e a mulher procuraram refúgio numa gruta das muitas que é possível encontrar na região, como eu próprio pude comprovar no Natal de 2009 quando estive em Belém.
Foi no aconchego dessa gruta, onde os pastores guardavam o seu gado durante a noite, que o casal se recolheu, aquecendo-se com o calor dos animais.

Segundo a narrativa bíblica, tinha chegado o tempo de Maria dar à luz e foi ali mesmo,  sob o olhar ternurento dos animais, que teve o seu bebé, aconchegando-o e aquecendo-o nas palhas da manjedoura que servia de pasto aos animais.

É esta a história simples, humilde e muito humana do nascimento de Jesus, cujo nascimento nesta noite de Natal comemoramos.
É por isso que o evento que celebramos nesta noite nos deve servir de meditação sobre a mensagem de solidariedade que representa. Há muitos presépios vivos espalhados pelas nossas cidades.

PS: O diálogo aqui transcrito é o de uma parte de uma canção teatralizada em período de Natal pelas duas personagens da foto. Estamos no Natal de 1967. Alguém imagina quem serão os actores?

UM BOM NATAL PARA TODOS!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Faleceu a D. ANA, cozinheira durante dezenas de anos no Seminário SVD de Fátima

                                       
Adeus, D. ANA!

A Ana foi sempre uma das minhas referências do tempo que passei em Fátima.
Uma referência fundamental, como não podia deixar de ser, pois era ela quem nos preparava a comida. Mas não se limitava a isso. Era também uma mulher afável, comunicadora e, nas funções que desempenhava, também uma mãe que alimenta carinhosamente os filhos. E eram muitos.
Quando entrei em Fátima, em 1957, já ela ali se encontrava. E nestes últimos dez a doze anos, quando ali me deslocava para os Encontros Anuais da AAVD, apesar de reformada, continuava a encontrá-la no seu posto de trabalho, na cozinha do Seminário, onde permaneceu por muitas dezenas de anos. Em Maio deste último ano, no último Encontro da AAVD, voltei a procurá-la na cozinha, mas já não tive a sorte de a encontrar. 

 Missão cumprida
Acabo de saber que nos deixou definitivamente. Cumpriu a sua missão, partiu para a eternidade. Enfrenta agora o mais profundo do mistério da vida. Diz-nos a crença cristã que a vida não acaba, apenas se transforma. Não tenho dúvidas de que a Ana, como disse S. Paulo referindo-se a si próprio, combateu o bom combate; terminou a sua carreira, guardou a fé. Certamente que para ela estará guardada também a coroa de justiça que o "justo juiz" reserva para todos aqueles que tiverem esperado com amor o dia da sua aparição. 

 A despedida
Não tenho dúvidas de que a Ana deixa gratas memórias e saudades às muitas centenas de alunos que passaram pela casa de Fátima e com ela conviveram nos anos verdes da sua formação, apesar de, na sua maior parte, acabarem por seguir rumos de vida diferentes daquele para o qual estavam a ser preparados.
Não poderei estar amanhã em Fátima para a despedida. Mas deixo-lhe aqui o testemunho da minha admiração, homenagem e agradecimento pela forma carinhosa e preocupada como cuidou de todos nós, a partir do seu posto de comando na cozinha.
Já os antigos diziam: "bona culina, bona disciplina". E não tenho dúvidas que a acção da Ana a partir da cozinha terá contribuído enormemente para para a boa disciplina no Seminário e para o sucesso escolar dos jovens estudantes que por ali passaram.

Na galeria de memórias
Adeus, Ana. Partes, mas de certo modo ficas connosco. E quando, em Maio do próximo ano de 2015, voltarmos a Fátima para o próximo encontro da AAVD e eu passear pela mata-jardim do seminário, como costumo fazer religiosamente todos os anos nesse encontro, espero ver, no início do Caminho da Via Sacra, uma placa com o teu nome na galeria de memórias dos que já partiram.
Até à eternidade, Ana. Descansa em paz, pois deste alegria e vida a muita gente e ajudaste a formar muitos missionários. Vamos todos sentir a tua falta.
AC


PS: Segundo informação da SVD, a D. Ana faleceu hoje, dia de São Francisco Xavier, padroeiro das Missões. O velório será na Capela do Seminário do Verbo Divino em Fátima e o funeral amanhã, dia 4, às 15 horas.